sexta-feira, 30 de maio de 2008

A Ética no Jornalismo

A ética está presente em qualquer relação interpessoal ao indicar um padrão que define o justo e o injusto, o bem e o mal, independentemente de cultura, crença ou valores. Essa definição do termo ética tem origem na Antigüidade clássica, mais precisamente na filosofia grega.
Os filósofos dessa época, com destaque aos atenienses como Sócrates e Platão, afirmavam que toda relação interpessoal envolvia interesses – público ou privados – e, conseqüentemente, eram relações políticas. Portanto, como nesse período não havia distinção clara entre política (relacionado à administração da pólis, a cidade-estado) e ética, todas as relações deveriam ser conduzidas pela ética, com o intuito de se alcançar o bem público, o objetivo maior da política.
No momento atual, a ética é um conceito a que muitos recorrem na sociedade ocidental para exigir uma conduta centrada em princípios morais – influenciados pela cultura greco-romana clássica – nas mais diversas áreas de atuação profissional.
O jornalismo trata a questão da ética como um dos seus princípios básicos. A responsabilidade social do jornalista, na obtenção e divulgação de informações factuais e impessoais, definitivamente deve ser seguida por qualquer profissional da área. Afinal, o papel da imprensa, a “voz do povo”, é fruto direto de sua legitimidade perante a sociedade como ator responsável por transmitir informações de modo correto. Dessa forma, todos os veículos de comunicação que atuem de acordo com o interesse público devem seguir um determinado padrão ético, condizente com sua responsabilidade na sociedade em que está inserido.
O caso da “Guerra dos Mundos” de Orson Welles – quando o futuro diretor, então radialista, transmitiu, ao vivo, informações falsas baseadas na obra de H. G. Welles, em que noticiava uma invasão de seres marcianos à Terra – pode ser considerado, no mínimo, socialmente irresponsável por criar um quadro geral de histeria nas cidades de Nova Iorque e Nova Jersey. A justificativa de Welles – demonstrar que não se pode absorver informações pré-formatadas sem a menor abordagem crítica – pode ser considerada honrosa, mas a forma pela qual foi realizada é totalmente questionável e, talvez, injustificável.
Esse caso permite a indagação de uma importante questão ética inserida no contexto da comunicação social: seriam os fins capazes de justificar os meios? O jornalismo contemporâneo pode adotar uma ética maquiavélica? A ética amoral de Nicolau Maquiavel poderia justificar a prática de ações ilegítimas ou ilegais que tenham como objetivo o interesse público?
Se a explicação de Welles for considerada honrável, deve-se questionar se os meios utilizados são justificáveis pelos fins desejáveis; isto é, o jornalismo ético, que tem como objetivo informar a sociedade e atender o interesse público, deve usar de meios imorais ou ilegais apenas se esses forem considerados justificáveis pelos fins que promove.
Em contraposição, existem casos na história do jornalismo que são completamente antiéticos por visarem apenas o interesse particular de determinado meio de comunicação ou profissional. É o caso clássico de divulgar notícias falsas ou manipuladas; ou não divulgar notícias reveladoras por afetarem negativamente um importante anunciante ou uma importante fonte de informações.
Nessa concepção, e mais próxima de nossa realidade, está a série de denúncias feitas pelo jornalista Luís Nassif em seu blog, o Dossiê Veja, sobre práticas injustificáveis e imorais da maior revista semanal do país – Veja. São vários os casos apontados e não cabe relatar aqui nenhum com pormenores, mas todos se incluem no quadro de divulgação de informações (dossiês falsos, em sua maioria) inverídicas ou manipuladas com o objetivo de beneficiar determinadas pessoas – físicas ou jurídicas – próximas à publicação semanal e seus editores.
Dessa forma, fica claro que o jornalismo ético tem como compromisso com a sociedade o cumprimento de sua responsabilidade social ao divulgar notícias verídicas – de modo impessoal e factual – para informar todos os cidadãos, tendo como objetivo a promoção do interesse público, e não o lucro ou o interesse particular.

Livro relembra os fatos marcantes no país em 1968

Em edição revista e atualizada, lançada em um box com outro livro (1968 – O que fizemos de nós), 1968 – O ano que não terminou, do jornalista Zuenir Ventura, é um clássico jornalístico que recupera um período único na história mundial, o ano de 1968. O novo lançamento celebra as quatro décadas do ano em foco e duas décadas do lançamento da primeira edição. Estão presentes os fatos mais marcantes, com destaque ao cenário político, cultural e comportamental do país: iniciado em um célebre réveillon, cheio de esperanças e promessas, e que não terminou em 31 de dezembro, mas no dia 13, quando foi decretado o Ato Institucional nº5.
1968 – O ano que não terminou mostra todos as formas de resistência à repressão e os bastidores das forças armadas, demonstrando a ascenção gradual da influência da linha dura do exército no governo de Costa e Silva a cada ato considerado de conotação comunista ou subversiva.
A resistência ao governo militar que recebe maior atenção é o movimento estudantil. Os radicais estudantes brasileiros, inspirados por autores marxistas, realizaram feitos impressionantes – como a grande mobilização popular causada pela morte do secundarista Édson Luís, em um enfrentamento entre estudantes e a polícia, e a famosa Passeata dos Cem Mil. A atuação dos principais líderes – figuras influentes na política atual como Vladimir Palmeira, Franklin Martins e José Dirceu – também recebe tratamento cuidadoso. Esses líderes representavam diferentes correntes políticas, resultado de uma cisão que havia na esquerda brasileira da época: havia a ala reformista, o chamado “Partidão”, e os revolucionários.
Os eventos culturais mais marcantes no país são retratados com detalhe, dando atenção cuidadosa às repercussões causadas por cada um deles. O III Festival Internacional da Canção tem sua história contada detalhadamente, com destaque ao segundo colocado – Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores, de Geraldo Vandré –, o favorito dos espectadores, por se tratar do “hino nacional perfeito” e a Marselhesa brasileira, segundo Millôr Fernandes. A peça teatral Roda Viva, de Chico Buarque, é outra tratada como esmero, por ser “o grande escândalo cultural do ano”.
Zuenir conta toda a movimentação nos bastidores que resultam na edição do AI-5 – que teve como justificativa o discurso do deputado Márcio Moreira Alves, considerada uma afronta aos oficiais militares –, transformando a “revolução” em uma ditadura com todas as letras.